Mafra, uma revisita ao «monumento maior que o reino
O Palácio Nacional de Mafra e D. João V, o rei que o edificou no século XVIII, carregam uma aura negativa que perdurou ao longo dos tempos. A celebrar o seu tricentenário este ano, vale a pena redescobrir como Mafra foi vista ao longo de períodos contrastantes da História portuguesa e reavaliar o Real Edifício, assim como a atuação do seu monarca, com outros olhos.
17 de Novembro de 1717. No Alto da Vela, local ermo próximo da vila de Mafra, o rei D. João V e a rainha Maria Ana da Áustria, acompanhados pela sua corte, reuniram-se para o lançamento da primeira pedra de um convento que seria edificado para, como reza a história, honrar o voto que o rei fez aos frades franciscanos caso fosse assegurada a sua real e legítima descendência. Nascida uma filha, Maria Bárbara, a lenda conta que D. João V honrou o seu compromisso. Só que este não seria um mero edifício destinado a uma ordem religiosa – em seu lugar, surgiu um complexo de quatro hectares que se transformaria no Palácio Nacional de Mafra (PNM).
«Foi construída uma igreja toda em madeira para essa sagração, coberta de panos de damasco bordado a ouro», conta Isabel Yglesias, historiadora e responsável pelas relações externas da atual direção do PNM. A festa, «pomposa», acabou por denunciar a opulência daquele que seria o edifício nascido dessa primeira pedra, pois «ninguém faz uma cerimónia solene assim para um convento de 13 frades», e apenas seria igualada pelas festividades decorridas em 1730, aquando da sagração da sua basílica. Pensado na sua génese como um modesto templo destinado a uma pequena comunidade de frades arrábidos em voto de pobreza, o projeto mudou radicalmente em 1720/21.
Sob a orientação de João Frederico Ludovice, arquiteto alemão que se fixou em Portugal, o PNM redundou num monumental edifício de 1200 divisões com uma basílica ao estilo italiano, paço para acomodar a família real e espaço conventual destinado a 300 sacerdotes. A sumptuosidade requereu encomendas de toda a Europa, sendo exemplos os carrilhões de 92 sinos da Flandres, os paramentos e vestes religiosas da França e da Itália e os volumes, cerca de 36 mil, de todas as áreas da ciência, que compõem a biblioteca. Apenas possível com o fôlego económico trazido pelo ouro brasileiro, a conclusão de tamanho empreendimento necessitou do envolvimento, segundo Isabel Yglesias, de 50 mil pessoas espalhadas pelo território nacional mas, na sua grande maioria, sediadas na vila. A Real Obra consumiu tantos recursos, materiais e humanos, que a historiadora menciona existirem registos «da entrada de navios em Lisboa para serem reparados nos estaleiros, onde houve queixas de não haver carpinteiros ou ferreiros». A edificação, morosa, apenas se deu por terminada em 1750, mas muitos pormenores ficariam por concluir.
Contudo, apesar do seu propósito, o PNM raramente foi ocupado. Isabel explica que, de D. João V, há «muitas notícias das suas vindas, mas vida de corte com o palácio feito, é muito pouca», e que D. José, traumatizado com o terramoto de 1755, veio caçar à Tapada mas «mandou fazer uma Real Barraca, tal como a da Ajuda, a nordeste daqui. Ele não dorme no Palácio». Como a monarca seguinte, D. Maria I, enlouqueceu precocemente e passou ao recato do Palácio de Queluz, foi D. João VI quem finalmente fez vida de corte em Mafra, e foi ele o responsável por rechear o Palácio de riquezas e murais pintados, assim como pela colocação dos seis órgãos na Basílica que ainda hoje constituem uma das principais atrações do monumento.
A estadia foi curta pois, com as Invasões Francesas, a família real abandonou o país e levou muito do espólio consigo para o Rio de Janeiro. Restaurada a normalidade em Portugal, os monarcas apenas vieram ocasionalmente a Mafra. Como resultado, «a maior parte das coisas que temos aqui, principalmente na ala Sul, é já pós-Brasil, da época Romântica, e que vai até ao final da Monarquia» conta Isabel. A historiadora acrescenta também, numa ironia da História, que foi neste mesmo palácio que D. Manuel II passou a sua última noite em Portugal, ao cuidado do seu médico e conde de Mafra, Thomaz de Mello Breyner, antes de ser implantada a República. A partir daí, o PNM passaria a ser um museu, mas nunca perderia a fama de devaneio inútil de um rei que não sabia o que fazer com o seu dinheiro.
Uma «fanfarronada de pedra e cal»
Identificado como um símbolo do Antigo Regime, o PNM foi recebido durante o Liberalismo português com descrições pouco abonatórias, como a acima citada, da autoria de Pinho Leal. O historiador foi um de vários intelectuais do século XIX que desprezaram o Palácio: Oliveira Martins apelidou-o de «vasto abrigo mortuário» que «devorou em dinheiro e gente, mais do que Portugal valia». Camilo Castelo Branco considerou-o uma «pia parvoíce», e Alexandre Herculano declarou-o uma «sensaboria de mármore», «monumento maior que o reino», a representar os vícios do Portugal do século XVIII.
A razão para tanta acrimónia está relacionada com uma certa ideia sobre D. João V, «ainda hoje visto como a causa da decadência nacional», como revela António Camões Gouveia, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador especializado em história religiosa e cultural portuguesa. Desde o já referido Oliveira Martins, que caracterizou o seu reinado como «beato e devasso» e de «costumes ridículos e nojentos» até Pinheiro Chagas, que o vaticinou como «o homem mais funesto que se sentou no throno portuguez», o monarca, desde Oitocentos, veio sendo caracterizado, de acordo com António Camões, como «o gordo, freirático, com filhos ilegítimos e esbanjador do ouro do Brasil, uma imagem que se criou e que é difícil de combater».
Esta vilificação do rei acontece porque, segundo António Filipe Pimentel, «todo o século XIX é construído em revanche contra o século XVIII» e a sua história é escrita «numa dicotomia maniqueísta de luzes e sombras, heróis e vilões». Pimentel, diretor vigente do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e autor do livro “Arquitectura e Poder – O Real Edifício de Mafra”, conta que a esta posição acresce o facto de a história narrativa desta época pecar no rigor, tendo sido «escrita por grandes escritores» cujas obras «ficaram no imaginário coletivo porque as pessoas as tinham em casa e efetivamente as liam». Assim, D. João V e o seu filho, D. José, ficaram conhecidos como o reverso de uma figura como o Marquês de Pombal, cujo exemplo foi tido, segundo António Camões, como um «génio pré-liberal, um reformista que matou os Távoras e pôs os Jesuítas na rua».
Enquanto legado do “rei brasileiro”, o PNM foi entendido como um «desperdício» por ser um «monumento religioso», segundo António Pimentel, uma vez que carregaria o «estigma de que se desperdiçou ali a energia financeira e os recursos que poderiam ter ativado a indústria». Contudo, o diretor do MNAA argumenta que essa forma de olhar para o Palácio se revestiu, e ainda reveste, de anacronismo, porque «quando se olhava para o investimento improdutivo, estava-se a fazê-lo com a ótica contemporânea, liberal e pós-liberal, e não correspondente à do Antigo Regime», já que «essa noção de produtividade não existia; estávamos num sistema económico, o Mercantilismo, em que o que importava aos países era ter divisas, e nós tínhamos as do Brasil». Todavia, este contínuo vilipêndio do PNM sofreu um interregno durante grande parte do século XX – os regimes ditatoriais tratariam de branquear a sua imagem atendendo às respetivas motivações políticas.
Um novo valor enraizado no passado
Se os liberais e os republicanos de Oitocentos deram primazia a figuras como Pombal ou Camões pelos valores que deles retiravam para os seus planos ideológicos, semelhante projeto tiveram os homens das ditaduras do século passado. «Os centenários tiveram um papel significativo no Estado Novo», menciona Luís Reis Torgal, antigo professor de História Contemporânea da Universidade de Coimbra, sendo que o regime «procurou instrumentalizar a história para seu proveito». Essa importância ficou bem assinalada em eventos como a Exposição do Mundo Português de 1940, de cariz nacionalista e criada para celebrar o duplo centenário da Fundação do Estado Português (1140) e da Restauração da Independência (1640), ou os 500 anos da morte do Infante D. Henrique em 1960, cujas festas culminaram na criação do Padrão dos Descobrimentos.
A esta instrumentalização do passado não foi alheio o PNM, cujo bicentenário da sagração da Basílica foi marcado pela presença do Presidente da República e de vários ministros em 1930, estava então imposta a Ditadura Militar que removera a malograda 1ª República Portuguesa do poder. Segundo a cobertura do jornal O Século, Óscar Carmona deslocou-se a uma Mafra «engalanada» para uma cerimónia de «um brilhantismo extraordinário», que teve direito a concertos, de banda e de carrilhão, fogo de artifício e também atividades de lazer como «concurso de tiro aos pombos na Tapada».
Com a Praça da República, em frente, repleta de visitantes, as celebrações culminaram numa missa, «revestida da maior pompa», presidida pelo Cardeal Patriarca Manuel Cerejeira e marcada por discursos triunfalistas como o do “Cónego Pontes”. O sacerdote não só evocou a sagração de 1730 para justificar que, novamente, «na casa de Deus estava reunida a alma lusitana», como defendeu «não ser demais ter-se gasto muito dinheiro em monumentos grandiosos, como a Batalha, Mafra, Alcobaça e outros, pois que eles representavam as nossas glórias e atestavam a nossa civilização». A sessão litúrgica culminou com o Cardeal Cerejeira na varanda da Basílica a lançar «a bênção ao povo e aos 25 automóveis inscritos na “gynkana”» que tomaria parte na vila no dia seguinte.
Esta data de 1930, refere Luís Reis Torgal, foi particularmente importante porque nela se estabeleceram as bases do Estado Novo, com o lançamento do Manifesto da União Nacional, subscrito por Carmona e Salazar. As ligações entre Mafra e o regime salazarista não cessam aqui para o historiador conimbricense, ao revelar que o Palácio «está ligado à memória traumática da minha geração porque os milicianos iam receber formação para lá antes de irem para a Guerra Colonial». De Setembro de 1966 a Março de 1967, o professor esteve estacionado na Escola Prática de Infantaria antes de ser enviado para a Guiné. Desde a presença francesa que o convento passou a alojar militares e, após a extinção das ordens religiosas em 1834, foi cenário de escolas militares sob diversos nomes. – presentemente é a Escola das Armas, que ainda opera nas traseiras do PNM, mas sem a importância institucional de outrora.
Mafra: uma história de porquês
Tanto a postura crítica quanto a saudosista se revelam incompletas na compreensão da existência do PNM. Na base da «história muito mal contada», como lhe chama António Pimentel, do Palácio e de D. João V, está o conceito de Rei Absoluto,o que ‘pode, quer e manda’. Na verdade, o poder no início do século XVIII é «intrinsecamente frágil», explica o diretor do MNAA, porque o monarca «não dispõe de instrumentos de domínio, de polícia, de exército regular nem de uma máquina fiscal eficiente». Ao contrário dos reis liberais, que apoiariam o seu poder numa constituição, D. João V «atua numa estrutura de ordens, organizada por um sistema de corporações no qual se forma uma rede de privilégios imensa que a coroa tem naturalmente de respeitar porque é a arquitetura dos poderes existentes».
Constrangido por uma aristocracia que não controla, o rei cria Mafra, pois precisa de reforçar a sua autoridade numa sociedade «que se exibe, precisamente porque não há poder – tudo é uma profunda ilusão». Tomando a Roma papal como inspiração, o rei irá procurar impor «um Barroco autoritário em sentido, não de autoritarismo, mas de autoridade como valor moral» para centralizar o poder, explica António Pimentel. Dessa forma, o PNM representa uma «teoria política demonstrada em pedra na sua articulação».
António Camões toma uma posição semelhante, apelidando o Palácio de «obra de majestade» que, mais do que um projeto religioso ou de vaidade, é uma «construção de poder». O professor acrescenta que Mafra foi o local escolhido dada a impossibilidade do rei em edificar a Basílica Patriarcal que desejava no tortuoso traçado lisboeta pré-terramoto e que, à semelhança dos palácios de Versailles em França, ou o Escorial em Espanha, esta obra foi pensada para ser um «espaço exterior ao mundo urbanizado, um pequeno microcosmos de poder centrado no Rei».
Parte de um grande projeto nacional, as causas para a construção de Mafra são ainda mais profundas do que um mero exercício de poder. Quando D. João V sobe ao poder, Portugal acabara de recuperar da Guerra da Restauração da Independência contra Espanha, procurando destacar-se no panorama europeu. O que este monarca fez foi, ao contrário de «afirmar o país enquanto potência beligerante», conta António Pimentel, apostar «na grande máquina política diplomática e de imagem – que é infinitamente mais barata do que a guerra.» Daí que tenha investido importantes somas nas embaixadas europeias e em árduas negociações com Roma para ser considerado ao nível dos outros reis católicos, sendo Mafra «um cenário de aparato, grandeza e suscetível de ombrear com as grandes casas da Europa sem auxílio da nobreza».
A noção de um rei imoral e pândego contrasta com a versão de António Pimentel, para quem D. João V era «um workaholic, que trabalhava noite fora até às 4 ou 5 da manhã». Tanto que, segundo Isabel Yglesias, «os secretários dele diziam que as luzes do quarto do Rei ficavam frequentemente acesas até tarde porque ele estava a ler». António Camões professa que D. João V «centraliza os diferentes poderes sem os anular» e que tem «intervenção plena no poder». Como prova, acrescenta o director do MNAA, está a documentação «às resmas – cerca de 40 anos com notas compridíssimas à margem. Ele lia analiticamente cada documento».
É por isso que, à luz de vários trabalhos historiográficos mais recentes, desde os livros de Jaime Cortesão até à já mencionada tese do diretor do MNAA, a imagem deste rei e da sua obra tem sido recuperada. Na opinião de António Pimentel, D. João V teve a «capacidade de perseguir uma ideia coerente e ambiciosa», com um «pensamento em grande escala, não megalómano mas prudente» que falta a um Portugal que «se foi tornando cada vez mais pequenino, menos ambicioso e mais confinado». De resto, António Camões menciona que deve ser feita justiça à memória de D. João V e ao seu legado. «A grande descoberta neste momento é que o D. João V não é aquele tonto que a historiografia fez dele. Não quer dizer que não fosse freirático, mas não é isso que o define.» Todavia, quaisquer tentativas de mudar a opinião pública terão sempre um sério entrave pela frente. Há um colosso cultural, editado em 1982 que ainda exerce mais influência do que qualquer livro de história: o seu nome é O Memorial do Convento.
Como olhar para Mafra em 2017?
«Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento.» Assim começa o Memorial do Convento, cuja história de amor entre os personagens Baltazar e Blimunda se intersecta com a construção do Real Edifício, servindo esse cenário para um violento retrato da exploração do povo português em prol das elites da época. Apesar do papel de denúncia, a obra do Nobel da Literatura ficou intrinsecamente ligada a Mafra e é um chamariz de visitantes. «Penso que não há outro monumento que tenha uma obra literária tão diretamente associada», aponta Isabel, confessando que não haveria tanta gente a visitar o Palácio não fosse o mediatismo do bestseller. Desde os alunos do Ensino Secundário que têm o livro incluído no plano curricular até aos turistas que chegam a Mafra de todo o mundo, Isabel destaca que todos «vêm à procura da obra de Saramago».
Por outro lado, a carga pejorativa de todo o empreendimento exposta no livro é mais um importante fator responsável pela dificuldade que ainda subsiste em olhar para Mafra de forma imparcial. É por isso que António Camões considera a interpretação literal do Memorial «perigosa, pois Saramago nunca pretendeu escrever a história do convento», sendo antes «uma obra de discursividade». Da parte dos atuais responsáveis pelo edifício, Isabel tem uma postura elogiosa para com «um retrato da época muito vivo, porque se centra nas pessoas que não são faladas na História» e para o qual Saramago chegou a consultar fontes da época. O legado saramaguiano foi abraçado pelo Palácio, tanto que, para as celebrações do tricentenário, se tem assistido a sessões de representação teatral da obra do escritor, tendo mesmo a 26 de Abril sido inaugurada uma exposição com o mesmo nome.
Para António Pimentel, o livro de Saramago tem o «mérito de ser uma peça literária de primeira grandeza» e de «ter criado uma poética em torno do monumento que não a tinha». Mas falta fazer mais. «O que acontece é que o Saramago fez a parte dele, nós é que não fizemos a nossa», admite o diretor do MNAA, que diz faltar promover a consciencialização das pessoas para não tomarem uma representação ficcional enquanto facto. «Nós temos uma matéria que nos pode dar uma imagem coletiva de forte impacto e estamos a negligenciá-la. O mais que conseguimos foi os alunos do Ensino Secundário já saberem o que é Mafra, mas chamam-lhe Convento e riem-se do que lá se passou! Está longe de ser feito o que deve ser feito.»
O programa do tricentenário, conta Isabel Yglesias, procura combinar atividades lúdicas como espetáculos de luz, concertos e visitas guiadas, com eventos do foro académico, como conferências e colóquios sobre o legado histórico, cultural e artístico do PNM. A historiadora defende «que este centenário tenha uma componente festiva, mas que se traduza também em novos conhecimentos acerca do monumento». Na sua óptica, é necessário «compreender, entender e avançar o conhecimento científico» de Mafra, pois «é isso que daqui a 100 anos ficará, não o fogo de vista ou os espetáculos de video-mapping». Para além de todo o trabalho de execução das festividades, os responsáveis do Palácio submeteram uma candidatura a Património Mundial da UNESCO, título que, segundo Isabel, permitiria ao PNM «ganhar outro estatuto em termos de projeção internacional e em termos de defesa do próprio património».
No entanto, o trabalho ainda é longo, e continua a ser insuficiente. António Camões dá o exemplo de «uma ligação fundamental que nenhum centenário fez até agora: a própria reconstrução da cidade de Lisboa pós-Terramoto.» Segundo o professor, a importância de D. João V assumiu duas vertentes: os planos para uma reorganização da cidade foram criados no seu reinado e o PNM foi uma escola de construção para os seus trabalhadores. O monarca «teve tudo o que era necessário para fazer uma nova Lisboa. A única coisa que não teve foi um terramoto». Após o cataclismo de 1 de Novembro de 1755, a finalização da construção de Mafra para, «porque a gente que estava nos estaleiros vem para Lisboa para trabalhar».
Apesar de reconhecer o mérito da direção do PNM, «que faz o que pode com o que tem», António Pimentel diz que falta «um programa consistente, de base» para que o Palácio seja projetado internacionalmente e deixe de ser «refém da conjuntura local, que é a de uma pequena vila». O diretor do MNAA confessa que o «inesgotável manancial de histórias que devia ser objeto de um trabalho de equipa enorme» está a ser desperdiçado. «Mais do que a capacidade de autossustentação do monumento», o que o apoquenta é o negligenciar «do papel que ele pode desempenhar na afirmação de Portugal». Servindo-se da ambição do rei que ficou conhecido pelo cognome de “O Magnânimo”, António Pimentel deixa uma advertência: enquanto não se aproveitar «uma das poucas portuguesas com escala internacional» o Palácio Nacional de Mafra continuará a ser «maior do que o reino; sobretudo em termos mentais».