Ermida da Memoria
Na origem da ermida da Memória encontra-se uma lenda referente à imagem de Nossa Senhora, esculpida por São José e pintada por São Lucas, na presença da Virgem, que se encontrava no mosteiro de Cauliniana, em Mérida, quando aí chegou D. Rodrigo, chefe dos Godos, depois da derrota cristã de Guadalete. Mais tarde, este e Frei Romano deslocaram-se para ocidente, chegando em 714 ao local onde hoje se ergue a ermida da Memória, local em que a imagem ficou depositada junto a um pequeno altar levantado pelo frade (BRITO 1609).
A imagem foi encontrada em 1179 numa gruta, sobre a qual foi depois erguida a ermida, a expensas de D. Fuas Roupinho, então alcaide do castelo de Porto de Mós, em acção de graças a Nossa Senhora da Nazaré, que o salvou de cair num penhasco quando perseguia um veado no seio de um intenso nevoeiro. Esta primeira capela, cujos panos murários eram abertos por quatro arcos, para a imagem poder ser vista em terra e no mar, viu os mesmos serem fechados por D. Fernando, em 1370, a fim de preservar a imagem, que se deteriorava rapidamente. O mesmo monarca mandou construir nova igreja, em local mais acessível, terminada, segundo a tradição, em 1377, correspondendo à igreja de Nossa Senhora da Nazaré.
Em 1600, o monge de Alcobaça, frei Bernardo de Brito, mandou desentulhar a gruta primitiva, reconstruindo, na mesma época, a antiga ermida. Nos anos seguintes o templo foi sendo objecto de reformas sucessivas que visaram enobrecer o espaço alterando-lhe, no entanto, a sua ideia original. Assim, logo em 1628 já os arcos se encontravam entaipados fechando por completo um espaço que frei Bernardo de Brito havia construído como uma planta centralizada, aberta por arcos de volta perfeita e, certamente, com o altar ao centro; a gruta onde a imagem havia sido descoberta era protegida por esta estrutura.
A partir desta data vingou o espaço fechado, que ganhou uma nova dinâmica visual, mais consentânea em relação ao que era habitual na época, com o revestimento azulejar integral do seu interior. O mesmo tratamento cerâmico mereceu a cobertura exterior, de quatro águas.
Nos alçados da ermida ainda se podem observar os antigos arcos, o registo azulejar que representa o milagre de Nossa Senhora da Nazaré, e a fachada é marcada pela abertura do portal, de verga recta, encimado por sobreporta em azulejo azul e branco e, sobre a cornija, por uma placa de cantaria relevada representando a Virgem da Nazaré com o Menino nos braços, São Brás e São Bartolomeu à direita, e D.Rodrigo e Frei Romano do lado oposto (ALÃO, 1628).
O interior é totalmente revestido por azulejos azuis e brancos, de padrão, que enquadram outros figurativos, onde se representam emblemas marianos (sobre este programa emblemático ver ARRANZ, 2001, pp. 59-76). Na cripta, que corresponde à primitiva gruta, encontramos um espaço igualmente revestido por azulejos, em cuja abóbada se ilustra o milagre e atrás de um gradeamento, a imagem de Nossa Senhora da Nazaré.
Estes azulejos tê m vindo a ser atribuídos à oficina de António de Oliveira Bernardes, um dos expoentes máximos da pintura azulejar barroca e da pintura a óleo, activo entre 1680 e 1732, ano do seu falecimento MECO, 1989, p. 224; IDEM, 1989, p. 80). (Rosário Carvalho)